Páginas

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Palco, Gilberto Gil

Subo nesse palco, minha alma cheira a talco
Como bumbum de bebê, de bebê
Minha aura clara, só quem é clarividente pode ver
Pode ver
Trago a minha banda, só quem sabe onde é Luanda
Saberá lhe dar valor, dar valor
Vale quanto pesa prá quem preza o louco bumbum do tambor
Do tambor

Fogo eterno prá afugentar
O inferno prá outro lugar
Fogo eterno prá consumir
O inferno, fora daqui

Venho para a festa, sei que muitos têm na testa

O deus-sol como um sinal, um sinal
Eu como devoto trago um cesto de alegrias de quintal

De quintal

Há também um cântaro, quem manda é Deus a música

Pedindo prá deixar, prá deixar
Derramar o bálsamo, fazer o canto, cantar o cantar

Lá lá lá

 

Tem gente que parece que nasceu para escurecer o dia ou tornar a noite sombria. A criatura vive com a boca formando um bico. A musculatura da face é tensa e as sobrancelhas formam a letra “v” dando aquele ar ranzinza que assusta a qualquer um que tenha a desventura de se encontrar com ela.

Essa semana eu escolhi observar esses seres soturnos que andam por aí. Nos elevadores eles abaixam a cabeça e eu quase os ouço dizendo:  “Por que você entrou aqui? Bem que eu poderia estar sozinho ! Droga! E ainda me deseja um bom dia. Vou resmungar qualquer coisa para da próxima vez ela não se atrever a ficar ao meu lado!”

Nos supermercados presenciei cenas surrealistas! Cada membro da família “ranzinzis rabugentis” fica guardando lugar em uma fila. O primeiro que alcança o caixa faz um gesto nervoso para aquele que empurra outro carrinho bem cheio e lá sai ele em disparada. Claro que isso é o começo do barraco!

-    Que é que é isso? Você tem somente um carrinho! De onde saiu esse outro!?
-    Eu estava guardando lugar pra minha mulher!
-    Ah não! Aí são dois carrinhos! Pode ficar atrás de mim!
-    Bla bla bla bla bla bla...

E haja confusão e mais atraso na fila! E se tudo ficasse somente no bate-boca... Mas às vezes ocorrem trocas de dedos em riste na cara um do outro e até empurrões e tapas! Quanta falta de educação!

Concluí que essas pessoas mal-educadas invariavelmente são mal-humoradas. Quem não sorri afasta o outro e se torna ensimesmado e carrancudo. Só conversa consigo mesmo e só enxerga o lado ruim das coisas.

No trânsito, procuro me afastar delas. É fácil identificá-las: não se decidem por uma faixa, não dão passagem, trancam os demais motoristas, buzinam, colam o carro atrás do seu, falam palavrões, fazem gestos obscenos e por aí vai.

Experimente, por exemplo, trocar umas palavras com alguém que esteja aguardando para fazer exame de sangue. Se for da turma dos sem humor tenho certeza de que apertará o papel contendo a senha de chamada e, no máximo, balançará a cabeça para você como uma lagartixa ao sol. Os olhos ficarão arregalados, os batimentos cardíacos mais acelerados e a boca denunciará um aperto nos dentes.

Tente pedir uma informação na fila do cinema. O mesmo acontecerá. Sabe por quê? O “ranzinzis rabugentis” pensará que você está querendo passar a perna nele, ou melhor, passar na frente dele de algum modo.

Até pelo telefone é difícil se entender com o “ranzinzis”. A dicção é imperfeita e as falas monossilábicas; não há chance de você obter a simpatia dessa criatura. Ela, sem dúvida, parece não conhecer o amor e fará de tudo para dificultar sua vida.

Faço, então, um apelo: adote um “ranzinzis rabugentis”.  Insista em lhe oferecer seu melhor sorriso, seja sempre gentil com ele, ajude-o. Não perca sua paciência porque não vale a pena; você é quem corre o risco de ele tornar seu dia infeliz. Então, torne o dia dele melhor, mesmo que ele não entenda isso e ache que você é “mais um desses babacas-felizes-que-acham-que-a-vida-é-cor-de-rosa!”

E siga em frente feliz e sorridente porque essa é uma forma sábia de viver.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O que é, o que é? Gonzaguinha


Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...

Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...

E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!...

E a vida
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...

Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...

Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...

Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...

Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...

E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...


Ainda ontem  eu era uma menina serelepe brincando de roda no meio da rua. Pois é... a gente  podia transformar o meio da rua num meio de palco ou num playground porque havia poucos carros trafegando e, quando passavam, era bem devagar. Pedalava na bicicleta e colocava uma tampa de potinho de sorvete preso com um pegador de roupas nos aros da roda traseira pra fazer barulho. Lembro que, certo dia, o barulho cessou e eu resolvi olhar para trás e investigar o que havia acontecido. Não deu outra: subi com a bicicleta no primeiro tronco de árvore que apareceu na frente! Ô tombo! Mas não  aconteceu nada, exceto uns arranhões na perna. Segui em frente para a próxima aventura!

Com uns dez a onze anos, às brincadeiras de "Polícia e Ladrão"(adorava ser ladrão!) e de pular corda foi acrescentada "Salada de Frutas". Quem se lembra? A gente ficava vendado e alguém nos perguntava? Quer esse? Quer esse? "Esse" era um menino ou menina e, geralmente, a amiga que fazia a pergunta dava um beliscão no nosso braço - disfarçadamente, é claro! - indicando que era o momento de dizer "sim". Pera, uva, maçã ou salada mista? Cada fruta representava um cumprimento: beijo no rosto, abraço, aperto de mão e até beijo na boca. Se havia algum interesse maior em alguém, a resposta era rápida: uva! Ou seja, beijo na boca! Era um selinho rápido, movido a vergonha e excitação pela brincadeira feita muitas vezes escondida dos pais.

Minha adolescência não foi muito turbulenta. Gostava de estudar, de estar com minha turma e aos quinze anos, como escrevi no post "Flagra", descobri o amor. Hoje, mesmo  sendo uma senhora casada(kkkkk), com filhos e tal, confesso que nunca me esqueci do meu primeiro namorado. Não propriamente dele, mas da descoberta daquele sentimento novo e maravilhoso! Foi uma época mágica! Amava e era amada! Todo mundo sabe que amor adolescente é cheio de paixão, do tipo"nunca mais vou amar ninguém como eu amo você." É tempo de superlativos. E eu curti cada minutinho dessa fase...

Meu tempo de estudante parece que não acabou. Mantenho contato com meus colegas de escola graças ao facebook. Para nós, não existem senhores nem senhoras. Vemos uns nos outros as crianças do passado. Nos rostos não existem rugas nem cabelos brancos; permanecem o sorriso, a ingenuidade e a alegria.

Depois virei universitária, "Madame Sei de Tudo". Eu era dona do meu nariz, cheia de soluções para o mundo. Tirei carteira de motorista, me achava a própria! E vieram novos namorados nem tão importantes assim... Mas com o fim da faculdade e ainda sem emprego, vivendo com meus pais e sem dinheiro, a coisa foi ficando séria! De estágio em estágio, de atividades sem carteira assinada fui ficando cheia e resolvi que era hora de mudar. Ganhei alguns livros de um grande amigo que já foi para outra dimensão e comecei a estudar para o concurso do Banco do Brasil. Passei! E lá fui eu trabalhar em Amaraji, cidade da zona da mata pernambucana.

A partir daí descobri um  mundo diferente. A responsabilidade maior, dinheiro no bolso, novos amigos e uma carreira a seguir. Tudo ia se encaixando... Um dia casei, tive minha primeira filha e conheci o amor de mãe. Descasei, casei novamente, tive outra filha e vi que o amor pelas minhas duas meninas era do mesmo tamanho. Vivenciei aquela frase tão conhecida: "em coração de mãe sempre cabe mais um."

Esqueci de dizer que morei na Suiça e foi um experiência significativa. Trabalhei como femme de ménage (termo chique traduzido por faxineira) e ganhava lá mais do que ganhava aqui naquela época. Fazia limpeza três vezes por semana das 17h às 20h. Por meio desse novo ofício fiz amizade com pessoas de todo o mundo. Aprendi outra língua, conheci outros países, costumes diferentes e me tornei mais independente ainda.

No final do ano passado me livrei de um câncer e conheci o medo. Vi que a morte pode vir a qualquer hora e a gente nunca está pronto.  Mas recebi carinho e apoio dos amigos e da família e, como diz Mário Sérgio Cortella, reaprendi que "a vida é curta para ser pequena". Superei a doença com louvor e a ela, agradeço o amadurecimento acrescentado e uma nova forma de ver a vida.

E não é que hoje completo cinquenta anos? Gente, meio século de vida! Hoje é dia de agradecer a Deus, aos meus pais  e a maravilhosa família que tenho! Hoje é dia de agradecer a você que me lê porque tenho sua amizade.Que bom estar escrevendo estas linhas para comemorar !  Muito obrigada! É a vida, é bonita e é bonita...