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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sonho Impossível


Fonte da imagem: terapiadasideias.blogspot.com


Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
Chico Buarque



Hoje não tem post, mas gostaria de agradecer a você que me segue e me lê com carinho.


Este blog foi inaugurado em 16 de outubro de 2011 e completou mais de 1000 acessos.Mais de 1000, gente! Isso significa mais de 1000 afagos, abraços, beijos, atenções, carinhos e mais de 300 pessoas por mês lendo e se importando com o que penso e escrevo!


Meu muito obrigada com emoção! Que minhas letras continuem a alcançar o coração de cada leitor e sejam escritas com a simplicidade da alma.


Um próximo ano de paz e saúde! É tudo o que desejo a cada um de vocês!


Com imenso carinho,


Fátima







sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Atirei o pau no gato

Atirei o pau no gato tô tô
Mas o gato tô tô
Não morreu reu reu
Dona Chica cá
Admirou-se se
Do berro, do berro que o gato deu:
Miau!



Nesse último mês do ano fomos surpreendidos por um vídeo www.band.com.br/noticias/cidades/noticia/?id=100000474743 que horrorizou a todos: uma mulher foi flagrada maltratando sua cachorrinha de estimação (de estimação?) da pequena raça yorkshire, com chutes tão fortes que levaram o animal à morte.

O vídeo, gravado por um vizinho da agressora, foi divulgado em todos os meios de comunicação e eu tive o desprazer de encontrá-lo nas redes sociais. Mal comecei a vê-lo e interrompi o carregamento. Não tive coração para continuar a assistir às atrocidades cometidas contra um ser indefeso e que, com certeza, amava sua algoz.

Não dormi bem naquela noite incomodada com o que tinha visto e lido. A mulher seria uma enfermeira, casada com um médico e praticou a insanidade na frente de sua filha de tenra idade. Que descontrole emocional teria sido aquele?




E o vizinho que filmou? Por que não livrou o bichinho das agressões? Por que foi omisso? Não temos respostas. Li que a enfermeira pagou uma fiança de R$3.000,00 e estava sob guarda da polícia porque ela e sua família estariam sendo ameaçadas de morte. Ah... E se mostrava arrependida, além de admitir que não é louca.

Desisti de fazer julgamentos. Na bíblia, sábio livro, lemos: “Atire a primeira pedra, quem não tiver pecados”. Quantos de nós já tivemos animais que um dia, por terem rasgado um sofá, ou feito pipi em local inadequado foram doados? Alguns até abandonados na rua? E por precisarmos trabalhar em outro país, já não poderíamos continuar com o gato de cinco anos ou o cachorro com oito anos de idade?

Quantos animais, em nome do desenvolvimento científico, servem de cobaia para que medicamentos possam ser comercializados sem efeitos colaterais saúde humana? Quantos coelhos têm em seus olhos, cremes dermatológicos testados para que sejam considerados hipoalergênicos ao nosso consumo?
E os zoológicos que mantêm encarcerados inúmeros espécimes da fauna para que sejam estudados, vistos, admirados, conhecidos, etc e etc. Será que não chegamos ainda a um nível de conhecimento que possibilite o estudo desses animais sem a necessidade de trancafiá-los?

Quantos poodles foram treinados para dançar nos circos, usando saiotes e outros bibelôs? E os leões banguelas domados entre grades? E os elefantes fazendo gracinhas em cima de bolas e pisando em chãos cimentados que machucam suas patas? Como os cavalos e pôneis aprendem rapidamente e com docilidade a levar a linda moça pela arena! E os chimpanzés, que inteligentes! Claro que, se não fomos criados por Deus, só podemos descender desses mamíferos quase humanos...

E a quantidade de pássaros engaiolados neste momento para o deleite dos nossos ouvidos e olhos? E o pior de tudo, caros leitores, é que vou fazer um mea culpa: a blogueira que vos escreve cria uma calopsita. Vicente, minha calopsita, vive solto no meu apartamento. Ora ele vai à gaiola, ora transita pelos diversos cômodos, atrás de mim, como um cão fiel. Eu o beijo, cheiro, dou banho nele, alimento-o... Como sou bondosa! Mas Vicente pensa ser uma galinha; seus voos são rasantes e, mesmo quando o levo ao parquinho, ele se limita a “andar” de galho em galho pelos pequenos arbustos aonde sua dona permite que ele vá.

Esse é um assunto polêmico e que sei, poderia ser tratado com mais profundidade, mas estamos num blog e minha intenção é leva-los a uma reflexão. Não, claro que não compactuo com a enfermeira. Continuo horrorizada e pensativa. E quantos seres humanos são agredidos e mortos a cada segundo por seus semelhantes? Sim, sei que muitos deles tiveram a chance de defesa ou, pelo fato de sermos da raça homo sapiens, a coisa fica entre nós mesmos. Será?

“Quem não tiver pecados, atire a primeira pedra.”

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Saiba, Arnaldo Antunes



Saiba,
Todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Sadam Hussein
Quem tem grana e quem não tem

Saiba,
Todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu

Saiba,
Todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar

Saiba,
Todo mundo vai morrer
Presidente, general ou rei
Anglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano

Saiba,
Todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé
Ghandi, Mike Tyson, Salomé

Saiba,
Todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet
e também eu e você.



É natal mais uma vez! E eu comecei a pensar que na infância isso significava passar as férias na casa do meu avô, ganhar uma roupa nova, um brinquedo, comer peru e ir à missa do galo com a família reunida. Era um natal sem pretensões, sem filas no caixa, sem cartão de crédito nem engarrafamentos. Significava um dia para visitar os amigos, comer rabanada e comemorar o nascimento do Menino Jesus. Eu ainda não entendia muito de religião, mas entendia que a data era importante.


Importante ressaltar que presente de natal era sinônimo de magia porque ele vinha diretamente do Polo Norte, trazido por Papai Noel que entrava pela janela do meu apartamento ou da casa do meu avô. No dia 24, à noite, eu ia dormir jurando que daquela vez eu o pegaria em flagrante, conversaríamos e ele me entregaria o brinquedo pessoalmente. Isso nunca aconteceu e o encanto desfez-se em uma viagem quando minha mãe me pediu para tirar uma laranja que estava naquele compartimento que existe por trás do banco traseiro do fusquinha. Procurando o saco das frutas, vi o presente que tinha pedido ao bom velhinho embrulhado num lindo papel. Meu coração murchou, calei-me decepcionada e entendi tudo naquele instante: papai Noel não existia... Foi duro encarar a verdade. Foi um dos primeiros desapontamentos na infância.

Mais tarde, na adolescência e até mesmo entrando na idade adulta, perdi um pouco dessa pureza e o natal passou a ser mais comercial. Trocava "lembrancinhas" nos Amigos Secretos, queria ter roupas bonitas e novas no natal e no ano-novo, comprava sapatos e somente ficava com a família por causa da tradição. Mesmo assim, houve caras emburradas porque não pude ficar com o namorado ou com a amiga confidente.

Depois que amadureci um pouco e já trabalhava, comecei a detestar a época dos festejos natalinos. Por quê?   O Natal começou a fazer sentido para mim e não gosto do comércio realizado nessa época. Que estresse para comprar, comprar e comprar! E com isso, as pessoas ficam nervosas, preocupadas em estar bem vestidas, indecisas na escolha dos presentes, ofegantes por visitar lojas e mais lojas em busca do consumo. Então, passei vários anos somente aturando o Natal. Não gostava de trocar presentes, de ir às festas, era uma chata mesmo! Embora, diga-se de passagem, presenteasse as pessoas que trabalhavam na minha casa, minha família e os amigos: com o coração feliz! Mas queria muito que as coisas mudassem! Que as pessoas entendessem o significado da data. Contraditório?

Até que enfim, no ano passado, veio o estalo. Não eram as pessoas que precisavam mudar e sim, eu! E a única resolução de ano-novo que fiz de 2010 para 2011 foi a de que me dedicaria aos amigos com todo o meu coração e seria um ser humano melhor a cada dia. Porque o amor é o que importa e no Natal comemoramos a fraternidade que o Menino Jesus ensinou. E que todos somos iguais e merecemos o melhor! 

É para o Amor, pelo Amor e com o Amor que vale a pena viver!

Um Feliz Natal a cada um de nós! Um Feliz Natal ao Menino Jesus!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A casa do meu avô

Asa Branca
Luiz Gonzaga

Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus "óio"
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração





Esse texto foi publicado na edição 44(maio/junho de 2007), da revista bb.com.você, editada pelo Banco do Brasil. Gosto muito dele e resolvi postar aqui para outros amigos lerem. Para aqueles que o conhecem, fica a sugestão de uma releitura com outro olhar.




Outro dia me peguei pensando sobre responsabilidade socioambiental. E aí lembrei da minha infância e da casa do meu avô. Todos os anos, em dezembro, meus pais, meu irmão e eu íamos passar as férias em uma pequena cidade do interior do sertão da Paraíba, onde moravam meus avós...


No caminho, a paisagem mudava. O cheiro do mar era substituído pelo cheiro doce da cana-de-açúcar, que "dava vez" a uma vegetação retorcida e cheia de espinhos. Eu me encantava com os cactos, os mandacarus e os aveloses. Era bonito demais! E as mulheres com vestidos de chitas coloridas e rendas branquinhas de algodão. E as vacas pastando, as seriemas correndo assustadas e as asas-brancas no céu!


O carro avançava... Lá ia uma mulher carregando uma trouxa de roupa na cabeça e uma criança nos braços. Outra equilibrava, também na cabeça, uma lata d'água. Carcaça de boi rodeada de urubus. Gente seguindo um enterro. Numa rede, o morto era levado ao balanço do vento quente e ao som de uma ladainha triste. Eu ainda ouço o canto daquele povo simples indo ao cemitério e rezando para que no céu a vida continuasse.


O carro atravessava mais um mata-burro. Chagamos. Abraçava meu avô de cabelos branquinhos, vestido com camisa da mesma cor, perfumado e com calças bem engomadas. Na hora do lanche eu me empanturrava de bolo, pão, doce e manga.


Às cinco da tarde tomava banho. Era banho de bacia, com uma cuia. A água era amornada com uma chaleira quentinha. E depois eu ia jantar. Prestava atenção nas panelas de barro do fogão a lenha. Minha avó abanava as brasas e elas ficavam mais vermelhas ainda. Era a vez do inhame, da macaxeira e do chá de canela.


A casa era iluminada por lamparinas, lampiões e velas. A gente, na cozinha, lavava louça com água de bacia também. Minha tia-avó contava estórias de peruas chocas e de botijas enterradas. Eu ficava encantada e dormia sonhando com aquele ouro que bem poderia estar enterrado embaixo da minha cama.


No outro dia, acordava com o barulho das galinhas e o canto das burguesas. O papagaio pedia café. Dona Santinha já passava a roupa com o ferro em brasa, e Cinele, uma das agregadas que viviam na casa dos meus avós, subia na cisterna para tirar água.


Eram dias maravilhosos! Mas o que isso tem a ver com responsabilidade socioambiental? Tudo! Hoje, não consigo ver uma torneira pingando; escovo os dentes sem deixar água escorrendo; não demoro horas embaixo do chuveiro; acendo as luzes somente quando é necessário e apago as outras esquecidas. É pouco, eu sei. Mas eu faço.


Riacho em Barra de Sta. Rosa: o sítio do meu avô ficava aí.
Faço porque tomar banho de bacia, com água amornada de chaleira; ver gente carregando lata d'água na cabeça somente para cozinhar; ver mulheres lavando roupas em riacho; ler à luz de velas... foram coisas que me marcaram profundamente. Pois é... e mesmo assim, morro de saudade daquelas férias na casa do meu avô!


Luiz Gonzaga cantando Asa Branca: http://letras.terra.com.br/luiz-gonzaga/47081/

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Problema Tudo Bem

 
Eu posso contar o tempo

Mas o fato é que o tempo me contou

Que quem não tem problema

Não tem nada, nada, nada

nada vale a pena

Uma vida só feliz

Pode ser bem pequena



Tudo fica parado

Às vezes é meio chato

Eu prefiro aprender

Com o que não está claro



Não que eu goste de sofrer

Mas já deu pra perceber

Que, no jogo, quem perde

Quando ganha se diverte



Iô, ô, ô

Problema você tem

Iô, ô, ô

Problema eu também

Iô, ô, ô

Todo mundo tem problema

Iô, ô, ô

E tudo bem
Ana Cañas
Quinta-feira, 24 de novembro:


Começo redigindo este texto olhando para o calendário: daqui a uma semana estarei fazendo uma cirurgia. Alguns leitores que têm mais contato comigo já sabem; outros ainda não sabiam, mas agora vou atualizar todo mundo.

Na empresa em que trabalho fazemos um exame de saúde anual e, como sempre, providenciei exames de sangue, ultrassonografia de mama e por aí vai. Ao entregar os resultados ao médico, ele começou a analisá-los e a conversar comigo num tom de voz bem baixinho... Como tenho problema de audição, pedi: "Doutor, fale mais alto porque não ouço bem". Ele continuou com aquela fala mansa e eu agoniada e preocupada porque pedia para ele repetir várias vezes as perguntas. Lá pelas tantas ele me disse: "Você tá ansiosa?" Não doutor, eu sou ansiosa e estou mais ainda porque você está falando baixo demais e eu me sinto desconfortável em pedir que repita tantas vezes as mesmas coisas...



Ele resolveu solicitar uma pancada de novos exames porque entendeu que eu deveria deixar de tomar  o meu maravilhoso lexapro e substitui-lo por algo mais saudável. Beleza! Um dos exames foi a ultrassonografia de tireoide que mostrou um nódulo. Resumo de tudo; punção, nódulo maligno, nova ultra, mais dois nódulos e cirurgia marcada.

Nervosa? Preocupada? Desnorteada? No, no, no. Não completamente, é claro! Da doença em si eu não tenho medo. Tenho medo da dor, tenho medo da invalidez e outros medos mais. Não gosto de anestesia, como a maior parte dos mortais. Esse negócio de ficar apagada não é comigo...

Mas falando sério, estou tranquila. Esse nódulo, por vários motivos, poderia ter ficado aí até que Inês fosse morta, ou melhor, Fátima fosse morta... Então, nós fomos mais rápidos do que ele e descobrimos o intruso; aliás, o nosso médico da fala mansa descobriu.

E nem tudo são assuntos chatos. Estou comovida com a quantidade de amigos que estão me dando força, rezando, oferecendo ajuda e carinho. Os familiares nem parecem morar longe, tal a presença constante por meio do telefonemas e mensagens. E isso é o mais importante! Amigos não têm preço, mesmo!

Iria fazer a cirurgia em Recife para ficar perto dos meus pais e primos, mas como precisarei de um acompanhamento mais efetivo, optei por fazer o procedimento aqui. Não me arrependi; estou sendo tão bem cuidada quanto seria se estivesse com minha família.

Então, registro nossos agradecimentos e, na próxima quinta-feira, antes de ir para o hospital, continuo esse post...




Segunda-feira, 28 de novembro




Ia escrever somente na quinta-feira de manhã porque preciso acordar às cinco horas e me alimentar antes da cirurgia que será mais ou menos às 14 horas. mas comecei a semana recebendo mensagem de uma amiga. Ela fará cirurgia no mesmo dia que eu, mas tem câncer de pulmão e várias metástases. Já não peço por mim, e sim por ela. Meus pensamentos fizeram uma reviravolta de 180 graus. Minhas preces agora têm outro destinatário...


O que mais posso dizer?




Silêncio na alma.


Quinta-feira, 1º de dezembro


A cirurgia da minha amiga foi antecipada e ela está na UTI agora, mas tudo correu tranquilo(a UTI é rotina do caso). Eu também fiquei mais serena.




Acordei às 5 horas com um despertador cujo alarme é o som de um galo. O bicho cantou, eu desliguei e nada. Acho que o prédio inteiro acordou no mesmo horário que eu, foi preciso tirar a pilha pro danado calar a boca, ou melhor, o bico!


Tomei café na marra, mas o melhor de tudo e que consegui dormir novamente. Agora, venho aqui me despedir de vocês Meu mantra de hoje é: "Maria passa na frente e resolve o que não tenho condições de resolver".


Até breve! Vou tomar um banho e seguir para o hospital. 


Fonte das imagens: google imagens

















quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A cidade (Madredeus)

Ai, esta saudade
Não tem idade
Não tem idade
Ai, esta saudade
Ai, esta saudade

Esta cidade
Não tem idade
Não tem idade
Ai esta cidade
Esta cidade

Esta verdade
Não tem idade
Não tem idade
Ai esta verdade
Ai esta verdade




Eu morei em muitas cidades:  nasci em Recife; morei no Rio de Janeiro, Maceió, Amaraji(PE), Petrolândia(PE) e outras cidades daqui do Brasil. Mas morei na Suiça. Sim, mais precisamente em Bussigny, pequena comunidade com cerca de 8.000 habitantes, em Lausanne. Passei um tempo em Lausanne, também, mas Bussigny marcou uma época da minha vida.

Morei na Praça do Russel, abaixo do Outeiro da Glória.
Hoje, não sei por qual motivo, senti saudades de lá. Na verdade, sempre que me recordo de qualquer das cidades que citei acima, sinto um aperto no coração. E pensando bem, sei o motivo: fui bem acolhida em todas e guardo um pouco de cada uma dentro de mim. Não somente dessas onde morei, mas de outras onde passei temporadas. Adoro Lisboa e adoro Genebra. E o Rio de Janeiro é a mais linda de todas!
Em Bussigny, perto da Gendarmerie, Passava lá quase todo dia .

As superquadras em Brasília.
Acho que todas as cidades têm um pouco de todas as outras. Seria uma espécie de mimetismo? Por exemplo: hoje moro em Brasília; será que dia após dia eu não estou deixando registrada a minha vida e plantando, por meio dos meus pensamentos, um pouco das demais cidades que conheci ou pelas quais passei? Talvez minhas lembranças impregnem a arquitetura, as artes e a flora daqui e quem sabe até o comportamento das pessoas com as quais eu convivo. 


Alguma semelhança com Meyrin, em Genebra?
Brasília tem paisagens semelhantes às de  Genebra. Seria o lago Paranoá lembrando o Lac Léman?  E as superquadras tão parecidas à Meyrin? O outono de Brasília tem o mesmo cheiro da Rue do Rive em Genebra. Disso, não tenho dúvidas. Assim que cheguei aqui, meu olfato me transportou para um passeio à beira do lago, em Genebra.


E o Recife? Quando estou na minha terra, recordo o Rio de Janeiro e vice-versa. O povo simpático, as praias bonitas (embora as águas mornas das praias pernambucanas sejam mais agradáveis) e até as favelas... Mas a "Cidade Maravilhosa" é incomparável! É suficiente alguém comentar que está viajando pra lá ou eu atender o telefone e ouvir aquele sotaque que amo, e meus neurônios fazem sinapses em um ritmo de doido. Já estou com vontade de comprar passagens e voar!
Minha cidade natal, a Veneza Brasileira.


Maceió, sol e mar!
Maceió tem gosto de água de côco, cheira às rendeiras do pontal do Trapiche da Barra e inunda meus olhos com o verde do mar. Nas Alagoas as praias são batizadas com nomes pitorescos: praia do Francês, Maragogi( a minha preferida), Paripuera e Praia da Sereia. Nossa, tô parecendo guia turístico!


Mas voltando ao assunto, hoje estou com saudade da Suiça. Saudade dos amigos que fiz, de falar francês fazendo biquinho, de tomar um trem na gare de Lausanne, levar sol deitada nos gramados dos parques. Das baixíssimas temperaturas suiças eu não sinto falta, mas do chocolate quente, sim! De chocolate eu gosto de qualquer maneira!



Rio São Francisco. Indescritível!
E as recordações da Suiça me levam a Petrolândia, no oeste de Pernambuco. A cidade não é bonita, mas é banhada pelo Rio São Francisco. Então, já tem enfeite! Quem conhece sabe sobre o que estou escrevendo. O Velho Chico é poesia em qualquer época do ano. As mulheres lavando roupas nas pedras, as ilhas no meio das águas infinitas, a cor da água mais evidenciada ainda pelo brilho do sol!



Moramos em um acampamento da Chesf, chamado Itaparica, e durante alguns meses trabalhei a 30km de lá. Todos os dias eu era obrigada a fazer meu trajeto em uma estrada margeando o São Francisco. Que obrigação prazerosa, principalmente se não estivesse dirigindo, porque não perdia um detalhe da paisagem. Mas essa é outra história. Conto depois!


Rio Amaraji
Ah! Como não falar sobre Amaraji? Foi lá que iniciei a minha vida profissional. Além de ser cercada de canaviais, tem belíssimas cachoeiras. Os engenhos Amorinha, Batateiras, Não Pensei(é isso mesmo, você leu certo), Garra e Animoso são sítios que permanecem na memória.


Lago Paranoá, na Capital Federal.
O que eu quero, finalmente dizer, é que essa saudade da Suiça me levou a uma conclusão: eu tive a bênção de morar sempre perto das águas. Mar, rio ou lago sempre estiveram presentes na minha vida. E hoje, tanto do local onde trabalho como do nosso apartamento, avisto água. O Lago Paranoá parece me cochichar: você é feita de mar...




Lac Léman.







quinta-feira, 17 de novembro de 2011

La Despedida

No hay más vida, no hay
No hay más lluvia, no hay
No hay más brisa, no hay
No hay más risa, no hay
No hay más llanto, no hay
No hay más miedo, no hay
No hay más canto, no hay

Llévame donde estés, llévame
Cuándo alguién se va, quién se queda
Sufre más

No hay más cielo, no hay
No hay más viento, no hay
No hay más hielo, no hay
No hay más fuego, no hay
No hay más vida, no hay
No hay más rabia, no hay
No hay más sueño, no hay

Llévame donde estés, llévame
Cuándo alguién se va, quién se queda
Sufre más
Shakira


Velório da minha avó materna em uma pequena cidade do interior de São Paulo. Quase todos os seus amigos estavam presentes, lamentando a falta que sentiriam de vovó Francesca. Era filha de imigrantes italianos e  aí havia crescido, casado, criado seus filhos e encantado seus netos.


Eu me sentia desolada porque ela fora uma das mulheres mais fortes e inteligentes da família. E tinha ideias muito além do tempo em que vivera. E era bela... E era digna... E era...

Relembrava alguns momentos passados com ela, principalmente as conversas que tínhamos depois que voltava das aulas, à hora do almoço. Nós discutíamos sobre livros porque ela era aficionada por leitura e eu, também. Dramatizava para ela meus namoros adolescentes e ela me confidenciava fatos marcantes de sua vida de mais de meio século com meu avô, que havia partido no ano passado. Com ela aprendi a ser mais sábia. Minha avó, apesar de ter cursado somente até o antigo ginasial, era senhora de si, conhecia a vida, sabia ensinar com delicadeza.  A partir daquele dia sua ausência me faria amadurecer mais devagar porque já não poderia refletir com ela seus ensinamentos.

Levantei-me e fui, mais uma vez, olhar seu rosto no caixão. Quando estava de volta à cadeira, meu olhar encontrou os de um senhor aparentando uns oitenta anos. Sentei-me junto a minha mãe e perguntei se ela o conhecia. "Seu nome é Bernardo, é uma história antiga..."

Ele seguiu lentamente até onde estava vovó, olhou-a por alguns minutos e beijou-lhe a testa. Colocou orquídeas entre as mãos dela, não sem antes beijá-las, também. Voltou-se para nós duas; olhou um a um, os que estavam no salão. O silêncio no ambiente me dizia que aquele foi um momento difícil e adiado.


" Bernardo e sua avó eram jovens em 1953. Conheceram-se na igreja por meio de olhares trocados furtivamente. Ele era filho de uma das mais influentes e ricas famílias daqui. Nós éramos gente simples do campo, plantadores de trigo. Mas você sabe, "o amor não tem fronteiras". Eles começaram a namorar escondido dos pais até que a mãe dele descobriu e o mandou para um internato. Minha mãe olhava a caixa dos correios todos os dias ; nunca recebeu uma carta, mas ficou esperando por ele. Quando ele voltou, foi para uma rápida visita aos pais; estava casado e morava em outra cidade. Ninguém nunca soube detalhes sobre o casamento. Você sabe, em uma cidade pequena notícia corre logo, mas essa união passou despercebida .


Sua avó silenciou a tristeza. Nunca comentou seus sentimentos, apenas vivia cada dia.  Tempos depois, um jovem médico apaixonou-se por ela e a pediu em casamento. Ela aceitou  e insistiu para que continuassem morando aqui. Ele concordou. Meu pai era um homem sereno.  Trabalhou no Hospital de  Santa Ágata, abriu um consultório e as pessoas o admiravam. Minha mãe dedicou-se a administrar a casa,  educar os filhos e participar, como podia, da nossa comunidade. Sei que esse homem é Bernardo porque tia Mariana, há muito tempo, havia me contado sobre ele e eu o tinha na imaginação".


Após o funeral, revirei a casa de vovó em busca de fotografias, cartas ou outros documentos onde pudesse recuperar essa história de amor, a única que minha avó me escondera. A busca foi vã. Pedi a amigos que desatassem os nós dos  meus pensamentos, mas ninguém conseguia porque, simplesmente, ninguém sabia.


Creio que, na despedida da minha avó,  presenciamos um pedido de perdão. Os jovens podem ser ousados, mas também medrosos porque são ingênuos.  Esse amor interrompido, o sonho não realizado, a mágoa carregada durante tanto tempo, deve ter sido doloroso para ambos. Que esse gesto dele, mesmo que tardio, seja sentido pela alma da minha avó. E que ela possa descansar em paz.


La despedida: http://letras.terra.com.br/shakira/1120250/