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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Atrás da Porta



Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Até provar que ainda sou tua...
Chico Buarque e Francis Hime

A interpretação de Elis Regina. 

Para Gustavo 


Separação quase sempre é um assunto doloroso. Consultei o dicionário e tanto o significado quanto os sinônimos remetem a palavras tristes: desunir, afastar, interromper, dividir...

Ontem conversei com um amigo que estava "em processo de divórcio litigioso"; há pouco tempo uma amiga também me disse que suportou um ano de casamento; alguém se separou na lua-de-mel e existem casais que vivem 40 anos juntos e se dão as costas.

A quebra da vida conjugal pode trazer alívio. Afinal, se não está dando certo o mais provável, nos tempos atuais, é que ocorra o divórcio. Mas a dor  é inevitável. Universal, ela atinge qualquer criatura cujo relacionamento termine. Ainda que a relação tenha sido devastadora, mais devastadores são o sofrimento e a frustração.

A separação induz o indivíduo a pensar, obsessivamente, nos melhores momentos passados com o companheiro. Quase sempre os motivos que levaram ao fim da relação são ofuscados pelas lembranças dos sonhos compartilhados e pelo amor que um dia existiu ou até existe. E a certeza sobre a decisão tomada transforma-se em insegurança...

Não foi uma tarefa fácil escolher uma música com letra que traduzisse o sofrimento da separação. Escolhi essa do Chico Buarque porque une versos pungentes e melodia triste. Mas muitas outras poderiam estar figurando aqui porque a dor-de-cotovelo é cantada em todas as culturas.

Separar-se, mesmo se de alguém a quem deixamos de amar, machuca a alma. Cada um dos envolvidos carrega dentro de si um pouco do outro e nem a passagem do tempo é capaz de enevoar todas as lembranças.

É difícil se adaptar a nova vida contando, muitas vezes, somente consigo próprio. Com quem dividir as preocupações e as dúvidas? Com quem compartilhar o final de mais um dia? Há um vazio a ser preenchido e nem sempre os amigos poderão fazê-lo porque é o vazio deixado pela pessoa com quem, durante muito tempo, acreditamos que envelheceríamos juntos.

Mas tudo acabou e tudo, pelo menos durante algum tempo, será solidão. Não mais existe o nós. É tempo de sentimentos mais delicados como fragilidade e saudade.

Fonte: magnunpoder.blogspot

sábado, 14 de janeiro de 2012

O ron-ron do gatinho - Adriana Calcanhoto

Sugestão: Leia ouvindo, é linda a música: http://www.youtube.com/watch?v=3R6oABmdiBQ

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pelo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso ele faz ron-ron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença - é carinho


Ainda outro vídeo para os amantes dos gatos: http://www.youtube.com/watch?v=ZSXtRDSPmKs


Parei meu carro no meio de uma rua estreita, espremido entre outros carros estacionados ao lado esquerdo e ao lado direito: um corredor polonês moderno. Fiz isso obrigada pela Dona Chuva que não deu trégua aos moradores de Brasília na semana passada, e meu marido e minha filha precisavam descer para alcançar o consultório da pediatra.

Ia passar a primeira marcha quando percebi alguma coisa pequena, cinzenta e peluda parada à frente do meu veículo. O que seria aquilo? Não, não, não: um filhote de gato. Pensei em buzinar, mas poderia assustá-lo. Decidi aguardar que ele atravessasse a rua, mas o bichano, incompreensivelmente, preferiu ficar sentado na rua molhada e fria.

Ah gatinho, lamentei, se você está pensando que eu vou adotá-lo, desista! Tenho uma calopsita que não se dá muito bem com felinos. Eis que ouvi uma buzinada estrondosa. O motorista do veículo atrás do meu perdeu a paciência.  Olhei pelo retrovisor, fiz uma cara feia e saltei do carro. Levantei o gatinho, mostrei a ele, coloquei o gato na calçada e voltei a dirigir. Céus! Eu me meto em cada uma... Mas quem disse que o gato saía da minha cabeça? Depois de estacionar o carro, voltei caminhando ao local onde ele havia ficado e não o encontrei.

Comecei a pensar nos gatos que conheci e conheço, animais de estimação de amigos. Marta, por exemplo, tem uns seis gatos na casa dela. Estive lá e me apaixonei pelo Guto, gato de cor de chocolate, olhar manhoso e, pasmem a-do-ra banho! Mas tem dificuldades de relacionamento interpessoal. Ele dá uma surra em qualquer semelhante que se aproxime. Queria tê-lo por perto (o Vicente ainda não estava por aqui), mas meu marido vetou a ideia... 

Tom é o meu gato. Mora no i Pad.


Outro dia ela me telefonou toda contente! "Tenho um gato que é a sua cara. Duvido que você não fique com ele!" Ah Martinha, nem vem que não tem, fui logo dizendo. Ela me enviou a foto do Algodão e eu quase caio dura; não é que ele é a minha cara, mesmo? Os olhos são iguaizinhos... Mas não fiquei com ele...
Olhos achinesados e pequenos, iguais aos meus... Lindo!
Há um ou dois anos recebi duas hóspedes lindas e educadas, de descendência italiana, nascidas em Santa Catarina: Marie e Kelly. Marie é branca e Kelly cinza. Minha amiga Adriane, a mamãe, precisou viajar e eu me ofereci para cuidar delas. Ficamos encantados com ambas. Kelly se afinou muito comigo e a Marie, com o meu marido. Naquela ocasião, ele era monitor de um curso à distância e ficava horas no computador. Marie, também, ficava horas ao lado dele. Uma amizade silenciosa que, desconfio, dura até hoje.

Kelly, certa vez, me deu um susto danado: cheguei em casa e nada dela, que sempre me recebia com afagos. Chamei, procurei, olhei embaixo dos móveis, esconderijos improváveis e ela continuava sumida. E se tivesse caído da janela? Moro no sexto andar e... pavor! Não, nesse caso, o porteiro já teria me dito algo. E quando olho para a mesa...

Kelly no maior sono... e me ignorando!
Minha comadre, Ceci, tem dois gatos mui amados: Kairós e Federica Felina. Ainda me lembro dos dias em que, aflita, ela rezou a todos os santos para que Kairós retornasse ao lar. O boêmio tem um hábito que sempre a deixa preocupada: ele sai para dar umas voltinhas no quarteirão. Mas naquele bendito dia, sumiu! Para encurtar o papo, Kairós havia sido resgatado por uma "protetora de animais" e foi encontrado enjaulado num abrigo. Susto medonho! Ceci ainda está pagando a promessa que consiste em deixar de tomar café por um longo tempo. Acrescento que ela achava que morreria sem cafeína!

Kairós ilumina a vida de Ceci.


Outra amiga, Patrícia, tem duas gatinhas também: Veda e Margot. São persas como as nossas hóspedes sulistas. Essas aprontam demais! Patrícia é apaixonada por elas, claro! Quase vinham passar uma temporada com a tia aqui, mas o Vicente chegou.

Veda e Margot enroscadas...
                  


Bem, sei que a maioria prefere cachorros. Ah, são fiéis, inteligentes, companheiros e só faltam falar! Não e isso que se ouve por aí? E os gatos? Ah, são egoístas; não gostam dos donos, são apegados à casa; querem mesmo é conforto! E dão alergia, e sujam a casa com os pelos e rasgam os sofás e isso e aquilo... Não é nada disso! Gatos são animais de estimação independentes e sábios! Se não gostam de alguém, não gostam mesmo! Nada de falsidade. Têm personalidade forte. E o melhor, eu já disse: são independentes!

Margot a fazer pose.

Gatos se enroscam, gatos brincam de se esconder, gatos perscrutam a gente, gatos entendem nossa tristeza, gatos compartilham dúvidas metafísicas, gatos  se envolvem literalmente nas leituras, gatos são companheiros, gatos são gatos!

Veda a perscrutar...


Quanto ao gatinho que cruzou meu caminho, não soube mais dele... Espero que um gatólatra o tenha encontrado e oferecido um abrigo quentinho. Tenho certeza de que não se arrependeu!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Pilha Pura

Pê, pê...pilha pura.
Pê, pê...pilha!
Pra viajar.... pra ..... pra... pra carburar...
Eu ouço tanta pilha que eu não aguento mais.
O tempo, o tempo todo, todo mundo quer contar
Aquela velha história que pros besta acreditar.
Duracel, raiovaqueeee, alcalina ou não.
Essa pilha que move o mundo
não faz parte da minha bagagem, não.
Não, eu seu que não...
Não faz parte da minha bagagem não...





Fonte da imagem: www.preiniciante.com

Há uns três dias convidei minha filha mais nova para jogarmos no wii fit. Lá fui eu toda feliz, liguei a TV, coloquei o cd e eis que fui informada, in english, de que a bateria do meu controle estava baixíssima. Ainda calma, peguei o outro controle. Surpresa! Low battery! Ainda tentei driblar a informação. Quem sabe estaria errada? Subi no tal do balance board, comecei a rebolar, me sentindo a própria Carla Perez (lembram da loira do tchan?) e eis que meu bambolê virtual caiu, meu rosto surgiu tristíssimo no vídeo e tudo parou. Simples assim. Acabou a brincadeira.

Comecei a filosofar: por quê as pilhas, baterias e afins acabam sempre na hora errada? Pensemos bem: já aconteceu com você de perceber que o relógio de pulso parou? Pilha! Sei que os mais jovens nem sabem o que é isso porque estão ligados no celular, digo, no iPhone; mas pertenço a uma geração que ainda valoriza um belo relógio e que busca as horas nele. 

E aquele pequeno despertador Casio que possui um mostrador luminoso? Acordo e dou um aperto em uma tecla frontal. A hora deveria aparecer magistralmente, mas a única que coisa que vejo é um piscado incômodo e as horas truncadas... Ai, ai, ai! Preciso me levantar de vez mesmo porque uma vez em pé, estarei acordada!

E outra coisa que perturba é o momento da troca das tais pilhas. Para relógios e despertadores é mais tranquilo. Quase todo mundo conhece um relojoeiro ou um camelô que faz esse serviço em dois tempos. Mas quando será que nós teremos tempo para ir até o relojoeiro ou o camelô? É cruel!

Há outro tipo de problema envolvendo as tais pilhas. Sabemos, desde crianças, que elas causam danos ao meio ambiente. Onde descartá-las? Dia desses descobri que no prédio onde moro, existe um coletor de pilhas e baterias. Foi a apoteose! Junto as baterias em um recipiente e, quando me lembro, desço toda serelepe e me desfaço delas. Para onde será que as levam? Nem quero pensar nisso! Esse assunto eu deixo o síndico resolver!

Enfim, comprei as pilhas para o wii fit e fui trocá-las. Ah não! Havia retirado as velhas e precisava saber em qual lado era o polo positivo e o negativo. Sem risos, querido leitor! Em alguns instrumentos isso é bem claro, mas em outros não é fácil! Depois dessa grande descoberta científica, ainda sofri deveras! As pilhas não se encaixavam. Muito suor, mas finalmente consegui. Agora, diversão! E para melhorar, fui em busca dos meus aparelhos de audição. Ponho um, ponho o outro e pimba! Som abafado. As pilhas estavam descarregadas, é óbvio!


Assim não dá! Minha pilha também acabou! Acabou!