Cheguei à conclusão de que vendemos nosso tempo muito barato. Uma pessoa precisa trabalhar para usufruir de condições para cuidar de si, dos outros e até do planeta. Mas habitualmente, dedica mais tempo ao trabalho do que a outras atividades que gosta ou precisa fazer.
Do filme:Morangos Silvestres
Precisamos e gostamos de ir ao dentista, ir ao médico, acompanhar os filhos, estar com os amigos, estudar, se deslocar, cuidar do corpo, ir ao cinema, ler, cozinhar, se alimentar, fazer compras, dormir, pensar e a lista segue infindável ... Mas dedicamos muito mais tempo ao trabalho. A maioria de nós precisa de autorização de um superior para ir ao médico. Na volta, deve apresentar atestado de comparecimento e, muitas vezes, compensar essas horas. Se para ir ao médico é um transtorno, o que pensar se formos ao salão de beleza?
Como realizar um bom trabalho voluntário se ele também exige responsabilidade, assiduidade e todas os demais "ade" do nosso trabalho? Quem não gostaria de acompanhar melhor a vida escolar dos filhos ou estar mais com o companheiro? E cuidar da alimentação da família e da arrumação da casa? E fazer uma atividade física com regularidade? Ou meditar? Ou não fazer nada? Quando conseguimos é quase sempre às custas de algo ou alguém. As mulheres, por exemplo, ainda pagam um preço muito alto por estar
no mercado de trabalho, mesmo com ajuda do companheiro ou de outra pessoa.
Muitas famílias são "governadas" pela presença de outras mulheres e homens que deixam seus lares para cuidar de outros. São as babás, empregadas domésticas, diaristas, jardineiros, caseiros e demais profissionais dessa área que, segundo pesquisas recentes divulgadas na Revista Época vem diminuindo gradativamente. Será que a mulher vai retornar sua vida ao lar? Será que vai diminuir a quantidade de filhos? Ou será que vai diminuir a quantidade de horas trabalhadas e, naturalmente, se conformar com rendimentos mais baixos ainda do que os que recebe atualmente?
Estou citando as mulheres porque sou mulher, mas as pessoas vendem seu tempo por um preço muito baixo. Considerações a parte sobre uma minoria que exerce cargos mais altos penso aqui naqueles e naquelas que saem todos os dias de casa deixando para trás filhos, atividades e até sonhos, mesmo! Acho que se essas pessoas não querem e não podem sair do mercado de trabalho, precisam exigir rendimentos mais robustos, que a façam abrir mão de tudo o que citei por um valor justo. Mas o que é um valor justo? Será que existe? Até mesmo para essa minoria que citei?
A dupla jornada de trabalho feminina ainda é fato, mesmo que muitos homens já participem da vida doméstica. Mas levará tempo até que a divisão de tarefas se torne igual.Porque não se trata somente de divisão de trabalho, mas sim, de felicidade. Quando uma mulher sai para trabalhar, ela troca muitas vezes, felicidade por pouco dinheiro. Mesmo sendo feliz com o seu trabalho, ela faz malabarismos para administrar o tempo.
Será que devemos promover um movimento em prol de salários mais dignos da perda de felicidade que juntamos ao longo da vida? Esse fenômeno da inserção da mulher no mercado de trabalho é complexo porque a ela ainda é cobrado papéis considerados estritamente femininos como exercer a maternidade, administrar o lar e ainda mirar-se no exemplo das Mulheres de Atenas: "... quando amadas se perfumam, se banham com leite, se arrumam Suas melenas..."
Para que trabalhemos o suficiente e desfrutemos do ócio não devemos apenas fazer aquelas mudanças sugeridas em seminários, revistas e livros: ter mais flexibilidade nos horários pessoais, reorganizar o horário, investir na qualidade do tempo dedicado à família, etc. Acho que é a sociedade quem precisa de uma reorganização do tempo de trabalho. As empresas devem oferecer condições para as pessoas trabalharem à distância; os horários de trabalho também poderiam ser melhor distribuídos, quando isso fosse possível. Por que a maioria trabalha das 9h às 18h? O trânsito fica caótico com tantos veículos circulando! Por que precisamos trabalhar todos os dias nos mesmos horários? Não seria interessante termos horários variados ao longo da semana?
Defendo que o valor do horário de trabalho seja rediscutido em outros termos que não somente o financeiro. Então, quem tiver a oportunidade de negociá-lo, que o faça bem feito.
A reflexão fica. Que as pessoas mudem o que for possível, que discordem, que concordem, mas não sejam apáticas. Insisto: nosso tempo é precioso!
Não dá para publicar o comentário do Serginho: Cara Fátima,
O tempo é, na mitologia grega, Cronos, portanto um Deus, por conseguinte autônomo. E aí está o grande imbróglio: o ser humano na sua vontade de ser Deus quer também se assenhorar do tempo - claro que isso não é possível. Acredito que só poderemos ter uma relação mais harmônica com Cronos, ou o tempo, quando não tivermos que focá-lo na relação trabalho-capital-consumo. A propósito da otimização/racionalização do tempo, tem um livro do Bertrand Russel - O Elogio do Lazer - que trata da redução da jornada de trabalho para que as pessoas tenham mais tempo para si e para os seus, além, claro, de aumentar a produtividade e gerar mais empregos (argh!...).
Serginho, li "O ócio criativo" do Domenico De Masi. É instigante o ponto de vista apresentado por ele. Vou ler esse do qo qual você falou; não conheço.
Tâamra e Sarah Queridas, obrigada pelos comentários enviados por e-mail. Não publiquei aqui porque são muitas a sperguntas que vocês fazem e preferi responder pelo GMail.
A todos que frequentam o blog, atualizo: estou bem. Voltei a trabalhar e sigo segurando a mão de Deus. Aos poucos me sinto mais forte, mais segura!
Não, Ceci, não perdem felicidade. Acho que poderiam ser mais felizes se pudessem fazer do trabalho algo a mais em suas vidas, e não a razão principal.
Com certeza, as pessoas não iriam ao médico na hora em que bem entendessem, e se os horários fosse flexibilizados, seria mais fácil e menos estressante. Pessoas que trabalham são responsáveis e precisam do salário para viver. Com certeza saberiam usar com parcimônia esse benefício.
Profundo.....lindo...sua cara.... revolucionário....simples...
ResponderExcluirAdorei simples assim...
Ainda bem que você gostou, Lane. Fiquei meio confusa ao escrever esse texto. Tantas ideias misturadas...
ResponderExcluirBeijos
Não dá para publicar o comentário do Serginho:
ResponderExcluirCara Fátima,
O tempo é, na mitologia grega, Cronos, portanto um Deus, por conseguinte autônomo.
E aí está o grande imbróglio: o ser humano na sua vontade de ser Deus quer também se assenhorar do tempo - claro que isso não é possível.
Acredito que só poderemos ter uma relação mais harmônica com Cronos, ou o tempo, quando não tivermos que focá-lo na relação trabalho-capital-consumo.
A propósito da otimização/racionalização do tempo, tem um livro do Bertrand Russel - O Elogio do Lazer - que trata da redução da jornada de trabalho para que as pessoas tenham mais tempo para si e para os seus, além, claro, de aumentar a produtividade e gerar mais empregos (argh!...).
Beijos,
Serginho
Serginho, li "O ócio criativo" do Domenico De Masi. É instigante o ponto de vista apresentado por ele. Vou ler esse do qo qual você falou; não conheço.
ResponderExcluirBom ler o que você escreve, me estimula.
Beijos, querido!
Tâamra e Sarah Queridas, obrigada pelos comentários enviados por e-mail. Não publiquei aqui porque são muitas a sperguntas que vocês fazem e preferi responder pelo GMail.
ResponderExcluirA todos que frequentam o blog, atualizo: estou bem. Voltei a trabalhar e sigo segurando a mão de Deus. Aos poucos me sinto mais forte, mais segura!
Beijos
Será que todo mundo "perde felicidade" enquanto trabalha? E se o trabalho for uma das coisas que a pessoa gosta de fazer e lhe traz felicidade?
ResponderExcluirE se todo mundo for ao médico na hora que bem entende, como fica a organização dos que dependem do nosso trabalho?
Abraços e muita sáude,
Ceci
Não, Ceci, não perdem felicidade. Acho que poderiam ser mais felizes se pudessem fazer do trabalho algo a mais em suas vidas, e não a razão principal.
ResponderExcluirCom certeza, as pessoas não iriam ao médico na hora em que bem entendessem, e se os horários fosse flexibilizados, seria mais fácil e menos estressante. Pessoas que trabalham são responsáveis e precisam do salário para viver. Com certeza saberiam usar com parcimônia esse benefício.
Beijos
Comentário da minha cunhadainha querida:]
ResponderExcluir"Adorei, tentei comentar no apartirdaletra mas não consegui.
Arnaldo Jabor que se cuide!... Sua crônica está profunda, lógica e incorrigível!...
Resposta: CULPA DO $I$TEMA!..."
Viviane
Vivi Querida,
ResponderExcluirAh se o Jabor ler isso... rs rs rs
Obrigada pelos elogios! Generosos demais!
Beijos,
Fátima