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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

The Logical Song


"When I was young
It seemed that life was so wonderful
A miracle, oh it was beautiful, magical
And all the birds in the trees
Well they'd be singing so happily
Oh joyfully, oh playfully watching me
But then they sent me away
To teach me how to be sensible
Logical, oh responsible, practical
And they showed me a world
Where I could be so dependable
Oh clinical, oh intellectual, cynical

There are times when all the world's sleep

The questions run too deep
For such a simple man
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am"
Supertramp


Ele foi um bebê grandão, cabeça bonita, rosto harmônico. As pessoas o admiravam. Oh que lindo... Sorriam para ele embevecidas. À medida que ia se tornando mais velho, sua beleza aumentava. Fazia sucesso na escola, tanto entre os professores como entre os colegas. Era o popular, o querido, todos queriam sua companhia. Sabido, depois veríamos que nem tanto, percebeu logo a importância da beleza, do charme, do savoir-faire.

A vida era fácil para um menino com tantos atributos e, claro, prometia o futuro mais brilhante e perfeito com o qual todos nós sonhamos. Mas ele não gostava de estudar: gostava era de caçar lagartixas, subir nos pés de goiaba, usar o estilingue, ver desenho animado, ir à praia. A escola fazia parte, mas era apenas o menor dos detalhes.

Adolescente, começou a fumar cedo, bebia uma cervejinha com os amigos, flertava sempre com a garota mais bonita. Ele faz parte das histórias do primeiro beijo de várias delas, hoje casadas, mas que o levam no coração e na memória.

Também com os amigos conheceu a maconha, experimentou outras drogas mais poderosas e foi se achando cada vez mais poderoso, também. Aos dezessete anos, casou-se. A moça esperava um bebê. Ele parecia ter pressa em ultrapassar as etapas que o mundo nos oferece em doses homeopáticas. 

Conheceu mais substâncias alucinógenas, tornou-se viciado em cocaína e bancar uma droga tão cara não é fácil, mas os amigos conseguiam pra ele: o mais bonito, o modelo fotográfico, o belo! Presença requisitada em todas as festas, simpático, gente boa demais, ainda conheceu o trabalhou para poder oferecer alguma coisa ao filho e à mulher amada. Mas as drogas o consumiam.

Um dia a família foi matéria nas páginas policiais: ele tinha furtado sons de automóveis, automóveis e motos. Foi preso. Réu primário. Foi solto. Voltou às drogas e à delinquência. Ficou mais de um ano numa cela na Bahia. Aprendeu a fazer artesanato com palitos de picolé, escrevia cartas aos pais.

Natal em casa. Ano-novo em família. Ainda conseguiu drogas, mas parecia decidido a mudar. Inscreveu-se no vestibular de Direito, saiu para um show de Raul Seixas. Estava embriagado. Ouviu-se, algum tempo depois, um recado na secretária eletrônica, a voz modificada pelo excesso de álcool.

O que se sabe é apenas o que foi contado. Agressões físicas. Correria. Um tiro no pescoço. Ainda teria dirigido, mas o corpo não resistiu. UTI. Quatro dias. Morte cerebral. Funeral em sete dias.

Tinha pressa mesmo. Viveu somente 25 anos. Para os que o conheceram e queriam bem a ele, continua o mais lindo, porém o mais ingênuo de todos. Morreu sem saber disso. Morreu pensando ser o mais poderoso.

2 comentários:

  1. Esse foi o post mais difícil de escrever. Uma catarse. Emoção na pele. Mas saiu do jeito que eu queria. Ao meu irmão, com muito amor!

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  2. Fátima, parabéns pelo blog. Vou passar sempre por aqui. Seja bem-vinda à blogosfera! Bjks

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