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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Minha História (Gesubambino)


Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente, laiá, laiá,laiá, laiá

Ele assim como veio partiu não se sabe prá onde
E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe
Esperando, parada, pregada na pedra do porto

Com seu único velho vestido, cada dia mais curto, laiá, laiá,laiá, laiá
Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo

... Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança...

Composição: Dalla/ Pallotino-versão:Chico Buarque

Mulher: A primeira vez que fizemos amor foi depois de uma rave e por sugestão minha. Ele era mais novo do que eu; acho que tinha uns 26 anos e eu, 32. Foi legal, e assim começamos a sair, ficar juntos, passear e nesse vai-e-vem, nosso namoro durou dois anos. Eu já tinha decidido que a partir dos 30 de idade teria um filho. Não gostaria que fosse uma “produção independente”, mas se não encontrasse um companheiro ideal esse filho seria somente meu. Eu trabalhava, ganhava um bom salário e, por comodidade, morava com meus pais que têm um excelente apartamento.

Homem(vou chamá-lo assim) ainda estudava e fazia estágios. Era charmoso, simpático e boa companhia. Aos poucos, me apaixonei e fazia o que estivesse ao meu alcance para mimá-lo. Ele morava num quarto e sala pago pelo pai, eu levava almoço, presenteava-o com roupas e o que mais achasse que ele precisava. Nós formávamos um casal, pelo menos era o que eu achava, e estávamos sempre juntos.

Quando comentei que gostaria de ter um filho e que ele fosse o pai, percebi um certo desconforto na expressão facial dele, mas compreendi perfeitamente aquela reação, afinal não é fácil cuidar de uma criança. Voltei a falar no assunto algumas vezes e insinuei que, mesmo se acabássemos o relacionamento, ainda queria que ele fosse o pai da minha criança. Até brinquei dizendo que roubaria os espermatozoides dele para que fossem inseminados no meu corpo.

Não demorou muito e começamos a ter alguns desentendimentos, briguinhas fúteis, silêncios incômodos entre nós e o namoro acabou.

Fiquei triste, depressiva, chateada, amargurada, não queria aceitar que um amor tão bem cuidado por mim tivesse um fim tão banal. Mas foi assim e reticências. Reticências porque tivemos ainda uns encontros rápidos para matar a saudade, até que coloquei um ponto final na história.

Certo dia, meu celular chamou e era Homem. “Mulher, vamos sair, tô com saudade do seu corpo, do seu carinho, tô com saudade de você. Vamos, vamos...” É claro que fui. O sexo entre nós sempre havia funcionado tão bem...

Assim que nos abraçamos e trocamos as primeiras carícias, lembrei Homem de que não estava tomando anticoncepcional e não tínhamos camisinha. Mas concordamos que “não era possível que somente daquela vez, alguma coisa acontecesse”. E continuamos o amor. Foi delicioso! Como poderia ter ficado tanto tempo longe daqueles abraços?

Um mês depois fiz teste de gravidez e o resultado foi positivo. Homem estava viajando. Liguei para ele e comuniquei a notícia. A reação foi de indignação, raiva, ódio mesmo!

Decidi ter o filho. Ele o registrou, mas quem paga a pensão é o avô paterno. Filho completou 2 anos e ainda não conhece o Homem; nem Homem conhece o filho.

Homem: Quando eu conheci Mulher o que mais me chamou a atenção nela foi sua independência; não a independência financeira, mas a forma independente como ela me fez crer que conduzia sua vida. Curtimos a rave e ela, muito sensualmente, me convidou a fazer amor. Começamos a sair juntos e em pouco tempo parecia que eu era membro da família dela.  Gostava daquele esquema: mulher bonita, família legal e eu era muito bem tratado. Mas a independência que Mulher havia me mostrado não era verdadeira. Ela morava com os pais, mesmo com condições de assumir seus compromissos.

Bem, isso não era da minha conta. O importante era que gostava da presença dela, o sexo era bom, íamos ao cinema, ao teatro, viajávamos e ela cuidava de mim como se eu fosse um príncipe. Tudo era tranquilo. Não, não a amava. Ou amava? Esse negócio de amar é coisa muito feminina. Eu estava com ela e ela comigo. Isso bastava.

Mas quando ela começou com um papo de ter filhos e  de que eu seria o pai, confesso que não me senti à vontade. Não gostei mesmo! Agi com cautela e delicadeza para dissuadi-la da ideia, mas percebi que ela apenas fez de conta que concordava comigo e eu fiz de conta que o assunto não era comigo.

Continuamos juntos, mas aos poucos percebi algo em desequilíbrio. E entre um aborrecimento e outro, o relacionamento ia se desgastando. Um dia, decidimos que era hora de virarmos as costas um para o outro. Mas a decisão era tomada e retomada todos os dias. A gente se encontrava, brigava, fazia as pazes e depois acabava de novo. Mas finalmente nos separamos.

Certo dia, vasculhando o armário, achei uma fotografia dela e senti vontade de revê-la. Telefonei e marcamos um encontro. No meio dos amassos ela falou que não estava tomando contraceptivo e perguntou se eu não teria camisinha. Mas não pensamos direito no assunto e fizemos amor ali mesmo.

Um tempo depois eu estava almoçando com minha namorada quando o celular tocou. Era Mulher: “Homem, precisamos conversar com urgência. Estou esperando um filho seu”.  Foi o holocausto para mim. Gritei logo que o filho não era meu. Tivemos uma discussão feia. Ela tinha feito de propósito, tenho certeza! Somente porque queria ser mãe a qualquer preço. Minha namorada, que é resolvida e cujo acontecimento nenhuma implicação teve no nosso relacionamento, ainda é a mesma de quando fui informado de que tinha sido eleito pai. Ainda bem que Namorada foi compreensiva comigo.O idiota aqui caiu na rede direitinho! Na rede não; no conto da barriga!

O pior é que continuo sem trabalhar e meu pai paga a pensão do guri. Já fui ameaçado pelo advogado dela de ser preso por não pagar a pensão, mas não tenho dinheiro e pronto! Se ela trabalha e queria o filho, por que não arca com a responsabilidade? Ou então, aguarda até que eu possa contribuir com as despesas do moleque? 


Ética: Plagiando o filósofo Mário Sérgio Cortella, podemos fazer as três perguntas básicas ao Homem e à Mulher: Quero ? Posso? Devo?

Mulher: Quero ter o filho; posso ter porque meu aparelho reprodutor funciona perfeitamente e tenho condições financeiras para criá-lo. Devo tê-lo? Não sei. Será que o pai deseja dividir essa responsabilidade comigo?

Homem: Não quero ter filhos, não posso ter filhos porque não posso arcar com a responsabilidade da função. Não devo tê-los pela mesma razão apresentada  anteriormente.

Ética: Por que não usaram um meio contraceptivo? Ou ainda, por que não evitaram a relação sexual?



Imagem fonte: essaeboameu.blogspot.com 


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