Asa Branca
Luiz Gonzaga
Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus "óio"
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Esse texto foi publicado na edição 44(maio/junho de 2007), da revista bb.com.você, editada pelo Banco do Brasil. Gosto muito dele e resolvi postar aqui para outros amigos lerem. Para aqueles que o conhecem, fica a sugestão de uma releitura com outro olhar.
Outro dia me peguei pensando sobre responsabilidade socioambiental. E aí lembrei da minha infância e da casa do meu avô. Todos os anos, em dezembro, meus pais, meu irmão e eu íamos passar as férias em uma pequena cidade do interior do sertão da Paraíba, onde moravam meus avós...
No caminho, a paisagem mudava. O cheiro do mar era substituído pelo cheiro doce da cana-de-açúcar, que "dava vez" a uma vegetação retorcida e cheia de espinhos. Eu me encantava com os cactos, os mandacarus e os aveloses. Era bonito demais! E as mulheres com vestidos de chitas coloridas e rendas branquinhas de algodão. E as vacas pastando, as seriemas correndo assustadas e as asas-brancas no céu!
O carro avançava... Lá ia uma mulher carregando uma trouxa de roupa na cabeça e uma criança nos braços. Outra equilibrava, também na cabeça, uma lata d'água. Carcaça de boi rodeada de urubus. Gente seguindo um enterro. Numa rede, o morto era levado ao balanço do vento quente e ao som de uma ladainha triste. Eu ainda ouço o canto daquele povo simples indo ao cemitério e rezando para que no céu a vida continuasse.
O carro atravessava mais um mata-burro. Chagamos. Abraçava meu avô de cabelos branquinhos, vestido com camisa da mesma cor, perfumado e com calças bem engomadas. Na hora do lanche eu me empanturrava de bolo, pão, doce e manga.
Às cinco da tarde tomava banho. Era banho de bacia, com uma cuia. A água era amornada com uma chaleira quentinha. E depois eu ia jantar. Prestava atenção nas panelas de barro do fogão a lenha. Minha avó abanava as brasas e elas ficavam mais vermelhas ainda. Era a vez do inhame, da macaxeira e do chá de canela.
A casa era iluminada por lamparinas, lampiões e velas. A gente, na cozinha, lavava louça com água de bacia também. Minha tia-avó contava estórias de peruas chocas e de botijas enterradas. Eu ficava encantada e dormia sonhando com aquele ouro que bem poderia estar enterrado embaixo da minha cama.
No outro dia, acordava com o barulho das galinhas e o canto das burguesas. O papagaio pedia café. Dona Santinha já passava a roupa com o ferro em brasa, e Cinele, uma das agregadas que viviam na casa dos meus avós, subia na cisterna para tirar água.
Eram dias maravilhosos! Mas o que isso tem a ver com responsabilidade socioambiental? Tudo! Hoje, não consigo ver uma torneira pingando; escovo os dentes sem deixar água escorrendo; não demoro horas embaixo do chuveiro; acendo as luzes somente quando é necessário e apago as outras esquecidas. É pouco, eu sei. Mas eu faço.
Riacho em Barra de Sta. Rosa: o sítio do meu avô ficava aí. |
Luiz Gonzaga cantando Asa Branca: http://letras.terra.com.br/luiz-gonzaga/47081/
casa de vovô....
ResponderExcluirCasa de vovô é bom demais, Lane ...
ResponderExcluirPena que ele já não esteja por aqui. Ô velhinho sábio!
Vivi os primeiros anos da minha vida numa quinta.
ResponderExcluirAté que, o meu pai (hoje percebo, com alguma sensatez) decidiu trazer as meninas para a cidade, segundo ele porque estávamos a ficar, umas selvagens.
Eu que hoje só acho agradável a água pelo menos tão quente como a de boa viagem, tomava banho no tanque e andava descalça por todo o lado (bem esse hábito ainda aprecio).
Como eu percebo essa saudável saudade Fátima.
Querida,
ResponderExcluirEsse é um tempo que devemos guardar na memória do coração. Você soube captar bem a singeleza do texto. Beijos e obrigada pela leitura!
Querida comadre,
ResponderExcluirEsse texto eu já conheço mas foi muito bom reler
porque é encantador. Amanhã, penso em ir por aí entregar o presente de
Paulinha e vê-la antes de vcs viajarem. A propósito, sobre o presente de natal que você me perguntou, seguem 3 sugestões que você pode adquirir pela inernet, por ordem de preferência (que abusada!):
1.DVD: Gilmore Girls, 7ª temporada.
2.Livro: 'A vida pós aniversário", de Lionel Shriver.
3. Libro: "A trégua", de Mario Benedetti
Não se apresse.
Bjs, Ceci